BIOLOGIA
O lobo-marinho (nome científico: Monachus monachus (Hermann, 1779)) é um mamífero marinho, pertencente ao grupo dos pinípedes.É é uma das maiores espécies de foca existentes, podendo na idade adulta atingir os 3 m de comprimento e 300 Kg de peso. Já as crias medem entre 80-120 cm, e pesam entre 15-20 Kg. A morfologia destes animais varia ao longo da sua vida, nascem com um pêlo totalmente negro e uma mancha umbilical amarelada, que passa depois a branca. À medida que crescem, a sua coloração é mais acinzentada, e é acompanhada por inúmeras cicatrizes (principalmente nas fêmeas). A mancha umbilical é visível na sua totalidade nos machos adultos, mas nas fêmeas adultas, a zona ventral é esbranquiçada. Esta característica, assim como a localização do orifício genital, é uma das principais diferenças entre sexos. O lobo-marinho atinge a maturidade sexual aos 3 ou 4, e as fêmeas da população da Madeira tendem a procriar com a idade de 6-7 anos. A sua esperança de vida ronda os 20- 25 anos.
ECOLOGIA
O lobo-marinho é uma espécie totalmente adaptada ao meio marinho, onde realiza diversas atividades fundamentais à sua existência, entre as quais: alimentação (essencialmente peixes, cefalópodes e alguns crustáceos), acasalamento, descanso (faz pequenas sestas à superfície e debaixo de água) e socialização( brincar e explorar). A espécie ocorre frequentemente junta à costa, e sobre fundos até os 200 m de profundidade, mas pode deslocar-se até algumas milhas da zona costeira, e mergulhar até os 400 m de profundidade. Embora passe muito do seu tempo na água, esta espécie também precisa e depende de terra para repousar, parir e cuidar das s crias. Para tal, ocupa principalmente praias abrigadas dentro de grutas, podendo também escolher repousar em praias abertas. Na Madeira, a época de nascimentos de lobo-marinho ocorre em outubro/novembro, sendo a altura em que se observam mais animais em terra, juntos em colónia, a cuidar das crias durantes os primeiros meses de vida. Quando fortalecidas, as crias experimentam as suas primeiras natações, sempre acompanhadas pelo olhar atento das progenitoras, e as primeiras brincadeiras/aprendizagens entre crias e outros elementos da colónia.
CONSERVAÇÃO NA MADEIRA
A conservação do lobo-marinho no Arquipélago da Madeira, teve início em 1988, através de ações desenvolvidas pelo outrora Serviço do Parque Natural da Madeira (SPNM), a instituição do Governo Regional da Madeira responsável pela conservação da natureza. Nesta altura, estimou-se que apenas existiam 6-8 indivíduos na população de lobos-marinhos da Madeira. Este programa de conservação, motivou a proteção legal das Ilhas Desertas, que atualmente têm o estatuto de Reserva Natural das Ilhas Desertas, o principal habitat do lobo-marinho.
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Em 2016, com a reorganização dos serviços regionais, o Serviço do Parque Natural da Madeira (SPNM), fundido com a Direção Regional de Florestas, deu origem ao Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM (IFCN, IP-RAM; DLR nº 21/2016/M, de 13 de maio), o atual tutor dos projetos de conservação do lobo-marinho.
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Até 2014, o trabalho de conservação efetuado pelo SPNM, sugeriu que a população de lobos-marinhos teria crescido para os 40 indivíduos. Em 2019, graças à nova metodologia aplicada no projeto LIFE Madeira Lobo-Marinho (LIFE13 NAT/ES/000974 Madeira lobo-marinho), veio revelar que a colónia era composta apenas por 21 indivíduos (dados de 2018). Este projeto, culminou na apresentação de uma Estratégia para a Conservação do Lobo-marinho no Arquipélago da Madeira.
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Em 2021, teve início o mais recente projeto de conservação do lobo-marinho: o projeto VECLAM - “Vigilância do estado de conservação do lobo-marinho no arquipélago da Madeira”, com duração até 2024, que pretende dar continuidade à conservação desta espécie e do seu habitat, e aumentar o conhecimento acerca da mesma.
Se quiseres saber mais sobre a história de conservação do lobo-marinho, vê a cronologia apresentada abaixo.
1420
Os portugueses descobrem a Madeira, onde encontram uma colónia de lobos-marinhos, que passou a ser explorada economicamente, para uso da sua pele e gordura (Barros, 1570; in Borges et al., 1878).
Foto: no livro «O Lobo-marinho no arquipélago da Madeira»
1980
Desde 1978 as capturas deliberadas e acidentais de lobo-marinho conduziram a uma redução drástica da população, que em 1980 atingiu apenas os 6 a 8 exemplares, confinados às Ilhas Desertas.
Foto: no livro «O Lobo-marinho no arquipélago da Madeira»
1986
É aprovado o Decreto Legislativo Regional n.º 6/86/M, que confere proteção aos Mamíferos Marinhos na Zona Costeira e Subárea 2 da Zona Económica Exclusiva Portuguesa (ZEE Madeira).
1988
O Serviço do Parque Natural da Madeira (SPNM) inicia o primeiro projeto de conservação do lobo-marinho.
Foto: no livro «O Lobo-marinho no arquipélago da Madeira»
1990
É criada a Área de Proteção Especial das Ilhas Desertas, com subsequente proibição de uso das redes de emalhar. Nesta altura, foram oferecidas aos pescadores artes de pesca alternativas em troca das redes de emalhar que então usavam.
1991
Aprovado o DLR nº 11/1991/M, que aprova o Brasão de Armas da Região Autónoma da Madeira, no qual constam 2 lobos-marinhos.
1995
A área de Proteção Especial ganha uma nova designação e passa a Reserva Natural das Ilhas Desertas
1997
É construída uma unidade de reabilitação para lobos-marinhos na doca das Ilhas Desertas (Deserta Grande).
Foto: no livro «O Lobo-marinho no arquipélago da Madeira»
2013
É publicado o Decreto Legislativo Regional n.º 15/2013/M que aprova o Regulamento da Atividade de Observação de Vertebrados Marinhos na Região Autónoma da Madeira.
2014
Teve início o projeto LIFE MADEIRA MONK SEAL (LIFE13 NAT/ES/000974) “Conservação do lobo-marinho na Madeira, com o desenvolvimento de um sistema de vigilância do estado de conservação da espécie” e términus no final de 2019.
Foto: no livro «O Lobo-marinho no arquipélago da Madeira»
2021
Teve início o projeto VECLAM - “Vigilância do Estado de Conservação do Lobo-marinho no Arquipélago da Madeira”, financiado pela Monk Seal Alliance, com duração de 3 anos.
PRESSÕES E AMEAÇAS
Na natureza, as populações podem ser impactadas negativamente por fatores de origem humana ou natural, estes são classificados como pressões – se estão a ocorrer no presente/tempo atual – ou ameaças – quando se prevê que ocorram no futuro. Na população de lobos-marinhos do arquipélago da Madeira, estão identificadas as seguintes pressões e ameaças:
Pressões de origem humana
Pesca comercial
Apesar de atualmente existir uma maior consciência ambiental por parte dos pescadores, persistem os indícios de ataques deliberados ao lobo-marinho e de capturas acidentais.
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Estas situações estão principalmente associadas ao uso de covos e à pesca ilegal, e embora não sejam muito frequentes, conseguem ter um impacto significativo nesta população de pequenas dimensões.
Atividades turísticas e de lazer
A falta de conhecimento sobre a espécie e o seu comportamento, leva a que as pessoas adotem condutas que perturbam o animal, e coloquem em risco o seu bem-estar.
Embora o lobo-marinho tenha um aspeto amigável e dócil, é um animal selvagem, e como tal pode reagir de forma imprevisível à aproximação do humano.
Pressões de origem natural
Mortalidade de crias
As crias nascem dentro de grutas, no período de outubro-novembro, meses estes que são caracterizados por temporais.
As intempéries marinhas podem provocar vários impactos, como a separação das crias das mães, a morte das crias por traumatismo devido ao impacto na rocha, o afogamento devido à inundação das grutas ou problemas de termorregulação.
Disponibilidade de recursos alimentares
As características do arquipélago da Madeira, com uma plataforma insular estreita e declive acentuado, aliada à baixa produtividade das águas (sistema oligotrófico), pode condicionar a disponibilidade de alimento para o lobo-marinho.
Ameaças
Número reduzido de machos na população
Na população de lobos-marinhos do arquipélago da Madeira, o número de machos é naturalmente inferior às fêmeas.
O número de machos tem vindo a diminuir devido a ferimentos e mortes dos adultos, o que pode colocar em risco a viabilidade reprodutiva da população.
Baixa variabilidade genética
No caso dos pinípedes, ainda não é claro se a baixa diversidade genética coloca em risco a recuperação de uma população. Contudo, é um fator a ser avaliado.
Degradação do habitat
Devido à ocupação do habitat costeiro pelo Homem, com subsequente degradação do mesmo nas Ilhas da Madeira e de Porto Santo, existe menor disponibilidade de habitat de qualidade para o lobo-marinho realizar as suas atividades (ex. alimentação, repouso, reprodução).
Aquacultura
O facto de o lobo-marinho ser atraído pelo peixe existente dentro e em redor das jaulas de aquacultura, bem como a tendência de expansão da atividade na Madeira, podem tornar esta ameaça numa pressão real.
Pesca lúdica
Ainda não se conhece toda a dimensão das interações Homem-Lobo-marinho no âmbito da pesca lúdica e comercial. Existem, contudo, vários registos de encontros (ex. em caça submarina), cujo risco para o lobo-marinho deverá ser avaliado.